segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Dias de UTI

Não há como deixar de registrar como foram os 17 dias que passamos com nossa filha na UTI neonatal, pois foram sem dúvida os dias mais difíceis da minha vida, ter um filho na UTI, mesmo que em bom estado geral como no meu caso envolve muitas coisas e é um período que exige muita força.
Minha bebê foi levada para a UTI logo depois do parto, falaram para mim que se eu me sentisse bem 7 horas após a cesárea eu poderia tomar banho, comer e ir visitá-la, minha cabeça nessas horas que passavam ficou voltada nela, queria que passasse logo as horas e disse pra mim mesma que tinha que estar ótima ao levantar, não deixaria de ver ela naquele dia por nada no mundo, e graças a Deus foi assim, não tive nenhum desconforto, levantei bem, tomei banho sem ajuda da enfermeira e fui andando até a UTI, isso já eram 11 da noite. Nosso primeiro contato foi maravilhoso, ela estava linda, coradinha, com um aspecto de quem estava bem, isso me deu muita tranquilidade na primeira noite, ela estava com uma sondinha na boca (para retirar resíduos do estomago e mais tarde alimentá-la), estava também com acesso venoso no bracinho, recebendo soro, difícil mesmo foi não poder pegá-la, fiquei olhando e fazendo carinho pelas portinhas que tem na encubadora, fui pro quarto feliz naquela noite.

No segundo dia a rotina se iniciou de verdade, tivemos que seguir os horários de visita (das 11:30 ao 12:30/ das 15 às 16h e das 20:00 às 21:00) começamos descobrindo que infelizmente as visitas atrasam muito, que nem sempre temos uma hora para ficar com ela, às vezes são apenas 20 minutos, aconteceu também da visita ser cancelada, a espera fora da porta é terrível, os atrasos em geral são devido à intercorrências com algum dos bebes e os pais ficam em pânico lá fora sem saber qual dos bebês não está bem. A vontade de tocar o bebê, de ter contato com ela é muitooo grande, nós temos uma carência terrível de contato, por muitas vezes eu entrava e saia da visita chorando, é um sentimento de privação muito ruim, por sorte já no segundo dia pude pegá-la pela primeira vez, foi a melhor coisa do mundo, sentir ela, seu cheirinho, sua respiração, pena que era por pouco tempo, nunca dava para eu matar a vontade por completo, eu queria pegá-la em todos os horários mas não era possivel, quanto menos a gente "mexer" no bebê melhor, para ela não perder calorias, não perder temperatura, não ficar estressada e etc, pois tudo isso prejudica o ganho de peso. Teve uma vez que as enfermeiras não deixaram eu pegar ela durante dois dias, eu fiquei muitoooo mal, tinha uma necessidade absurda de ter ela nos braços, foi muito dificil. Muitas vezes eu abria a portinha da encubadora, encostava minha cabeça lá e respirava fundo tentando sentir o cheirinho dela, dava uma vontade de tentar entrar lá dentro, de ficar perto dela.

Na primeira semana eu fiquei deprimida, foi uma experiência terrível ir pra casa sem ela, estava um dia chuvoso, eu não queria ter alta do hospital e deixar um pedaço de mim lá, chorei muito, não parei de pensar nela, nos primeiros dias eu acordava de noite chorando, uma saudade imensa, uma falta da barriga, saudade de sentir ela mexer, é uma combinação terrível não ter mais o bebê na barriga e não ter ela nos braços também, tão terrível que não tenho como descrever. Nos primeiros dias ela não pode ser alimentada, vimos nossa filha ficar 3 dias sem comer, apenas no soro, isso cortou nosso coração, deixou eu e meu marido arrasados, orávamos muito para que Deus saciasse a fome dela e que pudesse se alimentar logo, foram os piores dias, prometemos a ela que nunca mais terá fome, vamos lembrar dessa promessa pro resto da vida.

A rotina nos faz ter contato com outros pais, principalmente outras mães, nos apegamos aos outros bebês, entramos na UTI olhando direto pra encubadora dos bebês mais críticos, um medo de que eles não estejam mais lá, presenciei várias intercorrências com outros bebês nos horários de visitas, é muita tensão, é muito triste ver o pânico nos olhos dos pais, a esperança que eles tem mesmo com bebês tão críticos, é lindo o amor incondicional daqueles pais e mães que nunca tiveram a oportunidade de pegar seus bebês no colo mas dariam a vida por eles, infelizmente nos dias que estivemos lá dois bebês faleceram, e eu estava bem próxima da mãe de um deles, quando vi que ela não estava mais lá chorei muito, sabia o que tinha acontecido. Os sons da UTI não saem da minha cabeça, os alarmes descompensados nunca eram no monitor da Kaena (só uma vez que levei um susto devido a um mau contato do sensor, entrei em pânico) mas mesmo assim é terrível aquele ambiente, a gente tem pesadelos com os sons, eu mesma sonhei ainda esses dias que a Kaena tinha que voltar pra UTI, Deus nos livre.

Tive o apoio incondicional do meu marido, que esteve comigo em todas as visitas, que cuidou de mim mesmo estando muito abalado também, que conseguiu me dar força mesmo não tendo também, que abria mão de pegar a Kaena no colo em muitas visitas por sentir que eu estava precisando daquele momento com ela, que cuidou da minha alimentação, que aguentou comigo todos esses dias, a rotina de passar todos os dias no hospital, ele tomou a frente de muitas outras situações para me poupar, cuidar de mim, ele foi maravilhoso em cada detalhe, eu não teria conseguido se não fosse ele, nossas conversas, nossos abraços, nosso choro, só nós dois sabíamos o que estávamos passando e foi muito confortador ter ele comigo, nós já temos muito amor e cumplicidade, mas essa experiência nos uniu de uma forma muito mais forte, não tenho dúvida.

E com a ajuda de Deus nossos dias de UTI chegaram ao fim, foram apenas 17 mas pareceram uma eternidade, imagino então os outros pais, que ficam 30, 60, 90 dias, acompanhamos um caso em que a bebê teve alta após 8 meses de UTI, não consigo nem imaginar como é viver essa realidade por tanto tempo, mas graças a Deus ela saiu vitoriosa, e quantos não tem essa sorte?

Nunca vou esquecer cada segundo que passamos, aquilo que vimos, ouvimos, sentimos, o que nossa filha passou, teria que escrever muitos outros textos pra contar os detalhes, mas posso dizer com muito orgulho que ela é uma guerreira, uma vencedora, nos surpreendeu em tantos detalhes, por muitas vezes nossa força foi ela, ver que estava passando por tantas coisas com uma serenidade linda, criança tão frágil capaz de passar tanta força pra gente, na verdade frágeis éramos nós.

Oro a Deus para que os outros pais também tenham a felicidade que nós tivemos de trazer nossa filha pra casa!

Seguindo sempre com Fé (porque é só com fé que conseguimos passar por estes momentos de deserto nas nossas vidas).

Evelyn =)

3 comentários:

  1. Ahh... Obrigado pela visita lá no blog... E tô revirando aqui seu histórico porque a história se parece muito com a de minha esposa e eu. Perdemos um bebê faltando duas semanas para o parto, mas Zoe nasceu tb prematura, de 35 semanas, e passou somente por um banho de fototerapia. Uma pequena maravilha como sua pequena.

    ResponderExcluir
  2. Zoe nasceu muito bem, ainda mais por ser uma gestação gemelar, menininha forte desde o princípio, ela foi privilegiada por passar alguns meses ao lado do Mateo, aliás vocês pai e mãe também foram, pois puderem enche-lo de carinho ainda dentro da barriga, certamente isso fez dele uma estrelinha ainda mais iluminada!

    ResponderExcluir